29 de setembro de 2011

Karate Jutsu??

Galera, segue um vídeo sobre o Karate sendo usado atualmente como técnica no MMA e como defesa pessoal, nada diferente do nosso treino.


Algumas pessoas estão tentando se aproveitar do sucesso do Lyoto Machida no MMA pra vender um Karate "mais eficiente" e pegar esse pessoal que vem praticando Muay Thai e outras lutas nas academias. Na entrevista as falas do Lyoto-sensei, Roberto Santanna-sensei e James Sandall (vice-campeão mundial de karate tradicional -JKA- após a luta em que o Brasil perdeu para o Japão de 6x1) e Richard Amos-sensei são bem legais, podemos descartar apenas algumas falas do sensei Vinício Antony que ficou apenas fazendo propaganda da sua ideia.

E sobre Karate Jutsu vale lembrar o que escrevi no artigo que foi publicado na Revista Brasileira de Educação Física e Esporte da USP, uma das principais do país:


Sendo assim, caímos no terrível problema do uso, nas décadas de 1970 e 1980, principalmente, do termo Karate Jutsu. Entrando no embalo do Jiu Jitsu Brasileiro, técnica sistematizada pela família Greice através do conhecimento trazido pelo aluno de Jigorō Kanō, Mitsuyo Maeda (o Conde Koma), alguns praticantes de um Karate mais prático (ou como assim o pensavam) também adotaram o termo Jutsu (grafia correta para o ideograma kanji que significa técnica) em detrimento do .
No Japão, a partir da Restauração Meiji, que modernizou o país, diversas mudanças políticas e sociais ocorreram. Para o mundo das artes marciais, a fundação da Dai Nippon Butokukai[1], uma instituição japonesa voltada para o desenvolvimento das artes marciais, foi um grande marco. A partir de seu estabelecimento, toda disciplina guerreira tinha que ser registrada nessa fundação e seguir certas normativas, como por exemplo, a adoção da graduação kyū/dan e o uso do dōgi branco. A partir desse registro a arte poderia ser reconhecida ou distinguida como Budō, desde que fosse uma antiga arte tradicional japonesa que antes se nomeava a partir do sufixo Jutsu. Como o Karate nunca foi uma arte tradicional japonesa e, portanto, não teve o sufixo Jutsu como parte de seu nome, nunca foi reconhecido como Budō (uma arte tradicional japonesa), apesar de ter sido reconhecida e registrada na Butokukai através dos esforços de Gichin Funakoshi (ANDRETTA, 2009; STEVENS, 2005).
Cabe lembrar também que todas as artes japonesas sem exceção sofreram mudanças neste período, abandonando os nomes antigos e adotando os novos juntamente das novas diretrizes e preceitos. Assim o Jūjutsu tornou-se Jūdō, o Kenjutsu tornou-se Kendō, o Kyūjutsu tornou-se Kyūdō e o Karate tornou-se Karate-. Ou pelo menos a facção de mestres oquinauenses que seguiram Funakoshi no movimento de modernização e assim passaram a renomear também sua arte, sendo que ainda hoje existem em Okinawa estilos de Karate e até mesmo de Te (SHINJYO et al., 2004; NAKAZATO et al., 2003). Isto também nos remete a não esquecermos que sob qualquer hipótese podemos considerar o Karate-Dō ou o Karate de Okinawa como disciplinas de luta originadas do Jūjutsu japonês, devido aos fatos aqui apresentados. Portanto, esta afirmação comum a muitos professores brasileiros também não se sustenta.
Karate é uma disciplina que nasce em Okinawa, quando a ilha fazia parte de um reino independente (Ryūkyū) e foi influenciada essencialmente pelo Wu-shu chinês. A única lacuna que pode ser aberta a esse respeito é que o Wadō-ryū de Hironori Otsuka é uma mistura dos estilos de Jūjutsu que ele aprendeu na juventude com o Shōtōkan Karate-Dō, que estudou sob a tutela de Gichin Funakoshi, mas isso ocorreu no Japão em pleno século XX, quando a arte já possui algumas centenas de anos. Por estes e tantos motivos, o Karate não é uma “construção cultural tipicamente japonesa”, como já nos alertava o antropólogo Kevin Tan (2004).
Importa definirmos aqui uma significativa diferença: para os oquinauenses, Karate (ou simplesmente Te) é uma busca pela transcendência, pelo desenvolvimento espiritual, ou da Consciência, e pela sobrevivência (SHINJYO et al., 2004; RAMOS, 2001). Para os japoneses, Karate-Dō é uma busca pela formação do caráter, pela formação de um homem ético. O Karate de Okinawa se mostra muito ligado aos princípios taoistas e zen budistas. Este último é um sistema filosófico/religioso que é uma mistura de budismo (indiano) e taoismo (BLÓISE, 2000). Esta vertente se mostra muito ligada às técnicas divinatórias (ibid., 2000), como os enraizamentos, respirações (ibuki) e uso da energia sutil para técnicas de defesa absoluta (STEVENS, 2001). Em contrapartida, o Karate-Dō foi muito influenciado pelo espírito samurai, um fenômeno tipicamente japonês, pois, como dito anteriormente, nasce a partir do ingresso no sistema Butokukai. Portanto, é uma arte que pretende estar ligada aos mesmos preceitos de outras formas de Budō japonês, onde o principal objetivo é construir um indivíduo útil para a sociedade, remetendo-nos à produção de corpos dóceis, conforme estudo de Michel Foucault (2000).
(FROSI;MAZO, 2011)

 Karate é um só, treina com uma ou outra ênfase quem quiser em qualquer organização ou estilo. Estamos vivenciando isso ao treinar fortemente os bunkai!

Osu!!! 


[1] [大日本武徳会] – Associação das Virtudes Militares do Grande Japão.

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